quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

l'attente;

E toda vez que eu tranco a porta, suspiro. Meu mais novo sonho é não precisar trancá-la, acreditando que você só foi até a padaria comprar algo para comer e já vai voltar. Voltará em breve.

Todos os dias em que acontece aquele abraço, aquele esperando o elevador chegar, o coração dispara e é como se partisse em pequenos pedacinhos. Dói. Porque a ideia de sua ausência, mesmo que momentânea, me atormenta.

E o último beijo do dia deixa os lábios com gosto de quero mais. Deixa a presença-ausente de suas mãos segurando meu rosto, minha cintura. Anseio pelo próximo primeiro beijo como se não houvesse amanhã, como se o mundo acabasse no instante em que a porta se fechasse. Te mando beijinhos pela janelinha do elevador, e digo aquele "te amo" abafado, sem saber se, na verdade, você ouve.

Toda vez que fecho a porta imagino como seria se você permanecesse aqui dentro, comigo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

le sourire;

Teu sorriso é o começo, o estalar de dedos, um sorriso meu também.

Teu sorriso é luz, ilumina a casa inteira em um só instante.
Teu sorriso salva, me segura no balanço para que eu voe mais alto.
Teu sorriso é meu, minha esperança de que há no mundo algo além do limite, do belo.

Teu sorriso é o fim, o fim de um minuto qualquer para o começo de um momento inefável.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

um ode à mediocridade;

Depois de ser bombardeada de notícias e artigos preconceituosos, xenofóbicos e completamente sem pudor e respeito algum, me sinto obrigada a questionar: como o ser humano pode ser tão nojento? Sentada em frente ao computador, encarando o clarão do bloco de notas vazio, continuo a pensar. Será mesmo de tamanha grandiosidade essa opção que temos de sermos seres pensantes? Quantas pessoas, de fato, aproveitam dessa condição?

A retórica que me perdoe, mas sabemos onde esse texto irá acabar.
Só não sei de quem é culpa.

Poderia ser do estado, da política, da religião, do ensino, da família, da vida, do mundo, da cidade, do universo, do sol, da lua, das estrelas, do mar, dos grãos de areia, de Deus, do pai, do filho, do espírito santo.

De todo mundo e de ninguém, ainda assim não faria diferença.

Estará alguém ainda se questionando sobre isso?

É mais fácil ser medíocre.
É mais fácil ser hipócrita, é mais simples.



É mais fácil ir dormir e parar de acreditar que as coisas estão melhorando.
Isso sim.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

notre histoire;

Eu estava lá. Perdida no meio daquele mundo vazio, só. A neblina me obrigava a manter os olhos apertados para tentar enxergar o próximo passo. O vento bagunçava meu cabelo e me arrepiava ainda mais de frio. Foi quando minha mão encostou em algo...

Minha resposta, o maior calafrio que já havia sentido. O calor subindo dos dedos dos pés até o peito, o coração. Tateei um pouco mais a frente e senti de novo. - O que era isso? - Apertava os olhos de novo, mas não via nada além daquele véu branco que cobria a paisagem. Estendi o outro braço para decifrar o enigma.

Foi neste momento, exatamente nesse instante, em que me apaixonei.
Lá estava você, abrindo os braços para mim também. No laço do abraço me aqueci, me esqueci e me fiz uma nova mulher. O véu branco nos envolvia, agora como música, agora como uma doce melodia.

Nós estávamos juntos desde o início. Juntos nessa história a escrever.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

ao anoitecer;

Apago a luz do dia para viver a escuridão
Deixo clara somente a imaginação
Me fecho

Ao anoitecer, respiro aliviada
As cortinas conversam com o vento
Voam vagarosamente

As estrelas gritam caladas
Ao longe, se desesperam, uma após a outra
Não se acendem mais

Abro os olhos e a claridade me enche
Transbordando cada pedaço do meu espírito
Como sonhos diferentes a cada manhã

Me abro ao céu
Deixo escorrer a lágrima, transformo-as em nuvem
Me deixe brilhar



quinta-feira, 29 de julho de 2010

velha infância;

O sinal ficou vermelho. Conseguia me lembrar do sangue derramado na faixa de pedestres, como se tivesse vivido aquela cena. A lembrança ainda me marcava.

Quando pequena afirmava, com total precisão, que morreria cedo. Dizia à quem quisesse ouvir:
- Eu? Eu sei que vou morrer cedo, vinte e poucos, é como se soubesse desde que abri os olhos pela primeira vez.

O sinal permanece vermelho e tomo mais um gole de água. Respiro fundo para que entre mais vida em meus pulmões. Para que esta magia amedronte a morte que, talvez, já esteja dentro de mim.

Me auto-sabotei na infância, parece irônico, mas peço - todos os dias - antes de dormir, para que não me falte ar. Essa lembrança ainda me assusta, confesso. Mamãe me dizia que se eu não contasse meus medos, eles se tornariam realidade... Contei ao meu diário, não adiantou. Registro aqui e espero mais um dia nascer.

Como é bom, como é bom estar viva!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

mais sonhos;

Será que foram eles que se perderam no tempo? Ou será que eu que não estou me esforçando para ver entre as frestas da memória? Desisto. Não vejo mais razão, não alimento o passado, pois o que me interessa é o que está por ser escrito ali, duas páginas à frente.

Talvez tenha sido eu quem levantou e caminhou sozinha primeiro. Não quis olhar para trás, eu sei.. Nunca disse que era corajosa, as pessoas simplesmente acham isso no meu olhar. Engraçado reabrir os baús, tirar o pó do quadro e enxergar de novo o que eu fui, o que escolhi ser. Ora, e não é que quando me olho no espelho hoje, ainda não me reconheço? Acho que é questão de tempo, de novo esse tal de tempo. Através do espelho me vejo, mudada, mas ainda sou rascunho.

Rabisco coisa ou outra num caderno vermelhocapadura que poderia chamar de diário. Anseio reler os outros tantos cadernos por onde passaram minhas ideias. Tenho a impressão de que alguns sonhos caem da mochila no meio do caminho.

Minha mochila está para desfazer a costura das alças, mas continuo guardando sonhos grandes nela. Para ser sincera, sonhos cada vez maiores.