sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

fotos empoeiradas, sorrisos enferrujados, lembranças de tempos bons. cortinas ao vento, corações quebrados, tristezas que não compartilho. lugares novos, mãos dadas, talvez um sonho próximo. a vista do mar, um bom livro, uma viagem de volta. uma ligação durante a madrugada, um suspiro, outro desafio. flores vermelhas, alegria contínua, alguma nova hipótese. um relógio de ponteiro, olhos cansados, impaciência que não some. a música triste, uma sensação falsa, o passado. um copo d'água, o afeto comedido, alguns devaneios. um jornal antigo, uma vitória, por fim outra derrota. uma mão estendida, outras lágrimas, o bem-estar. a cadeira vazia, o conforto do coração, aquela saudade que já não se sente. a luz apagada, a taquicardia, os mesmos costumes. as estrelas no céu, olhos contentes, a chegada da esperança. o esforço, a ausência, o desespero desesperador. a melodia ao fundo, o perdão sobre o erro, coisas inconcientes. o faqueiro, aquele trauma, idéias malucas. uma caixinha-de-som, o cheiro da infância, outra bailarina. um computador, o avanço, medo do que estar por vir. as unhas vermelhas, as manias, o sempre. um sentimento, as palavras grandes, nunca mais. o ar, um alívio, coisas retiradas da garganta. o fogo, morder a língua, o presente aqui e agora. um pacote embrulhado, o novo, a dúvida certeira - um cigarro, pedacinhos de mim, coisas que não sei.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

E quando cheguei à tarde na minha casa, ela já me aguardava andando pelo gramado, veio me abrir o portão pra que eu entrasse. Seguimos juntas até a escada pro terraço, e assim que entramos nele abri as cortinas do centro e nos sentamos nas cadeiras de vime, ficando com nossos olhos voltados pro alto do lado oposto, lá onde o sol ia se pondo.
E estávamos as duas em silêncio quando ela me perguntou "que que você tem?", mas eu, muito dispersa, continuei distante e quieta, com o pensamento solto lá na vermelhidão do poente, e só foi mesmo pela insistência da pergunta que respondi "você já jantou?".
Então me levantei e fui sem pressa pra cozinha (ela veio atrás), tirei um tomate da geladeira, fui até a pia e passei uma água nele, depois fui pegar o saleiro do armário, me sentando em seguida ali na mesa (ela do outro lado acompanhava cada movimento que eu fazia, embora eu displicente fingisse que não percebia). E foi sempre na mira dos olhos que comecei a comer o tomate, salgando pouco a pouco o que ia me restando na mão, com mordidas fortes, sabendo que seus olhos não desgrudavam de minha boca, e sabendo que por baixo de seu silêncio ela se contorcia de impaciência.
Sem esquecer, acima de tudo sabia que mais eu lhe apetecia quanto mais indiferente eu lhe parecesse. Só me lembro que quando acabei de comer o tomate a deixei ali na cozinha e fui buscar o rádio que estava na estante lá da sala, e sem voltar pra cozinha nos encontramos de novo no corredor, e sem dizer uma palavra... nos tornamos uma só.