quinta-feira, 29 de julho de 2010

velha infância;

O sinal ficou vermelho. Conseguia me lembrar do sangue derramado na faixa de pedestres, como se tivesse vivido aquela cena. A lembrança ainda me marcava.

Quando pequena afirmava, com total precisão, que morreria cedo. Dizia à quem quisesse ouvir:
- Eu? Eu sei que vou morrer cedo, vinte e poucos, é como se soubesse desde que abri os olhos pela primeira vez.

O sinal permanece vermelho e tomo mais um gole de água. Respiro fundo para que entre mais vida em meus pulmões. Para que esta magia amedronte a morte que, talvez, já esteja dentro de mim.

Me auto-sabotei na infância, parece irônico, mas peço - todos os dias - antes de dormir, para que não me falte ar. Essa lembrança ainda me assusta, confesso. Mamãe me dizia que se eu não contasse meus medos, eles se tornariam realidade... Contei ao meu diário, não adiantou. Registro aqui e espero mais um dia nascer.

Como é bom, como é bom estar viva!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

mais sonhos;

Será que foram eles que se perderam no tempo? Ou será que eu que não estou me esforçando para ver entre as frestas da memória? Desisto. Não vejo mais razão, não alimento o passado, pois o que me interessa é o que está por ser escrito ali, duas páginas à frente.

Talvez tenha sido eu quem levantou e caminhou sozinha primeiro. Não quis olhar para trás, eu sei.. Nunca disse que era corajosa, as pessoas simplesmente acham isso no meu olhar. Engraçado reabrir os baús, tirar o pó do quadro e enxergar de novo o que eu fui, o que escolhi ser. Ora, e não é que quando me olho no espelho hoje, ainda não me reconheço? Acho que é questão de tempo, de novo esse tal de tempo. Através do espelho me vejo, mudada, mas ainda sou rascunho.

Rabisco coisa ou outra num caderno vermelhocapadura que poderia chamar de diário. Anseio reler os outros tantos cadernos por onde passaram minhas ideias. Tenho a impressão de que alguns sonhos caem da mochila no meio do caminho.

Minha mochila está para desfazer a costura das alças, mas continuo guardando sonhos grandes nela. Para ser sincera, sonhos cada vez maiores.