sexta-feira, 29 de maio de 2009

a árvore;

Em uma caminhada dessas pela praça resolvi me sentar ali, ao lado daquela minha árvore, daquela que eu plantei sem expectativas de que realmente um dia fosse crescer, florescer e criar raízes fortes, quase impossíveis de se soltar do solo.
Ela estava grande e cheia de flores, fiquei ali por muito tempo lembrando de todo o seu crescimento. Lembrei de quando ela era pequenina, quando eu achava quase loucura plantá-la ali, quando não sabia direito se era vontade ou dever regá-la todos os dias ao final da tarde. Ou quando, depois de um tempo, ela começou a crescer e eu conseguia sentir vida quando nela encostava para ler um livro, quando me acolhia, me protegia da chuva, me fazia acreditar que as coisas podiam realmente durar e dar certo, afinal, ela era a prova disso tudo, ela era toda amor... Das raízes ao topo.

Meses depois, entre um trabalho e outro, um copo e outro de cerveja, decidi visitá-la. Fazia tempo que eu não sentava ali ao seu lado, naquele lugar que era tão meu quanto minha alma.
E foi nessa visita que notei: a árvore não era a mesma.
Não conseguia entender o porque de tudo isso, porque tão de repente ela estava ali com as folhas secas, fraca, sem cor e vida. Não tive como conter as lágrimas e o desespero de não saber o que fazer para ajudá-la, queria de todas as formas que a vida aparecesse ali novamente, queria novas tardes ensolaras e novos livros para dividir. Mas não adiantou, abracei-a e fiquei lá por alguns minutos... As pessoas que passavam ao redor da praça me olhavam estranho, deviam pensar que eu era louca de insistir, de sentir tanto carinho, tanto amor.

Ontem voltei lá e sabia que não encontraria minha árvore contente. O outono chegou e ela estava quase sem folhas, quase que caindo para o lado, sem vontade de viver.
E tinha um senhor, nunca vou esquecer daquele maldito senhor, que estava com uma serra e mais uma equipe de homens sem amor a natureza das coisas, amarrando a árvore. Sim, iam cortá-la! - mas senhor, a eutanásia é proibida - eu só queria que ela morresse naturalmente, eu sabia que ela não estava sofrendo, ela vivia de lembranças, lembranças boas dos nosso tempos juntas, do companheirismo e do afeto que de fato nos fez pessoas melhores.
Fiquei observando de longe, estática, sem conseguir me mover. O vento batia e as folhas nem se mexiam mais, era seu último minuto, e eu não achava forças, não achava estímulos que me fizessem sair correndo para impedir que tudo acontecesse.
Ela já estava amarrada e os homens puxavam a corda para facilitar o trabalho do serrador, e nada. Não conseguia entender como ela estava surportando aquela dor sem cair, mas é, ela tinha esperança.
Duas horas depois e nada havia mudado. Minha querida árvore estava ali de pé ainda e o senhor sem paciência alguma para continuar o trabalho recolheu sua equipe e foi embora. Não esperei nem eles virarem a esquina e saí correndo, encostei nela com todo cuidado do mundo, mas senti: ela estava ali comigo.

Hoje, pensando na minha querida plantinha que se tornou essa enorme árvore forte descobri que certas coisas não morrem simplesmente, e que, sim...

Ela vai morar no meu peito por muito, muito tempo ainda.

terça-feira, 26 de maio de 2009

os pássaros;

O relógio apontava 3 a.m. quando ela abriu a porta, estava com pressa como sempre. Foi tirando a roupa e colocou o pijama, sentou-se em frente ao computador e ficou ali. Olhou em volta e respirou fundo, acendeu um cigarro e começou a digitar. Impossível definir a velocidade de seus dedos tocando freneticamente o teclado, mas era muito rápido, como alguém que precisava mesmo colocar para fora. Parou.

O relógio apontava 3:15 a.m. quando ele pegou o elevador, estava cansado como sempre. Abriu a porta do apartamento e foi direto para o banho. Ainda de toalha andou em direção a cozinha, pegou qualquer coisa ali na geladeira e sentou em frente ao computador. Demorou alguns minutos para tomar coragem e ler o e-mail recém chegado, buscou uma caneca de café, e abriu. A mensagem era longa e seus olhos corriam pelas letras, pelas palavras.. Como um poeta faminto por poesia. Pensou.

Ouviu o apito do despertador ao lado da cama, virou-se e viu: 4 a.m. e nenhuma resposta. Desligou a tela do computador e sentou na cama, cruzou as pernas e meditou por bons minutos. Abriu os olhos, deitou e se cobriu. Dormiu.

Ouviu o som de um passarinho e foi até a janela, ao abri-la, percebeu: o dia havia amanhecido, 6 a.m. e nenhuma palavra boa o bastante. Era hora de voltar ao trabalho e foi exatamente isso que fez, trocou de roupa e comeu o pão amanhecido que estava em cima do balcão da cozinha. Saiu.

O sol entrou pela janela e clareou o quarto, fazendo com que ela despertasse. Acordou sorrindo, havia sonhado com um passarinho. Olhou para o relógio, 9 a.m., era hora de ir.

Ele se atrasou e perdeu o ônibus.
Ela perdeu o ônibus e resolveu ir a pé.

Se encontraram ao dobrar a esquina.

Ela ouvindo Amy para acordar e ele ouvindo Yann Tiersen para relaxar.
Passaram reto, sem sorrisos e nem olhares.
Mais três passos à frente e o destino mudou...

Ela olhou para trás às 10:25 a.m.
Ele se virou para admirá-la caminhando às 10:27 a.m.

Então eram pássaros livres, de novo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

em branco;

fazia tempo que não me batiam momentos que nem estes, certa falta - ou excesso - de inspiração para contar novas histórias. as vezes a paz de espírito faz isso conosco, nos deixa em branco.

ora, leitor, não vá pensar que estaria eu aqui, sem emoções ou sentimentos, pois não seria digno de vossa pessoa achar isso de uma eterna sonhadora. a verdade é que, creio eu, nos últimos dias meu olhar esteve atento para coisas novas, e como são belas.. coisas simples, sem peso, coisas apenas coisas.

mas preciso ressaltar que também tenho reparado em coisas que antes, não sei porque, simplesmente haviam perdido a luz. consigo de novo acreditar, sentir, vê-las com certeza de que nunca foram coisas dispensáveis.

o que é dispensável e indispensável afinal?
eu sei.


e depois de todas essas percepções, posso dizer com certeza, e um sorriso: voltei a brilhar.