sexta-feira, 8 de agosto de 2008

aquela ausência.


Ela lembrava vagamente de sua presença.
Lembrava de alguns dias da infância, lembrava do ditado "primeiro a obrigação, depois a diversão" que ele insistia em repetir todos os dias, lembrava dos sorvetes no meio da tarde, lembrava das festas do morango, da uva, da laranja, do melão, de todas as frutas possíveis que ele havia levado ela. Lembrava das broncas porque ela voltava atrasada da casa das amiguinhas, lembrava de quando apanhou de cinta porque mentiu dizendo que estava indo pra casa e foi comprar chiclete no barzinho do lado de casa, lembrava dos sertanejos, dos cds do "é o tchan", lembrava dele orgulhoso porque ela sabia falar inglês, lembrava dele reclamando do seu novo gosto musical, lembrava das discussões bestas, dos gritos, dos abraços, dos "cheiros" no pescoço, das suas manias.
Lembrava a falta que sentia de não tê-lo mais por perto todos os dias, lembrava das brigas entre ele e sua mãe, lembrava dos ovos de páscoa de 3 kg, lembrava do banana de pijama que ele havia comprado pra ela de presente, lembrava do tererê, lembrava quando via as fotos, lembrava quando ouvia algumas músicas, lembrava quando comia algumas comidas.
Ficaram muitas lembranças boas, e algumas ruins, do passado. Ela evitava lembrar da raiva que a tomava por vezes, da desgostosura em saber algumas coisas, esquecia o preconceito, esquecia a ignorância, tentava só admirar, se orgulhar.
Ria ao lembrar dos conselhos malucos, ao lembrar dos questionamentos sobre sua virgindade, ao lembrar do machismo que de tão exagerado se tornava engraçado, ria ao lembrar dos momentos felizes.
Não houveram muitos momentos bonitos, emocionantes que nem estes de novela, reconciliações bonitas e fins de tarde alaranjados, ou fotos insipiradoras, mas restou o amor, a consideração, a compreensão e a não-compreesão, restaram lembranças e esperança de que o futuro fosse melhor.

Obrigada Pai, e desculpa qualquer coisa.

2 comentários:

Paulinha disse...

Nossa meu, q texto lindo. Essa coisa de pais e filhos me deixa meio sensível, talvez pq eu tenha uma relação estranha com os meus.
É pai, foi mal aê. Mesmo.

Bjão Gabi!

Anônimo disse...

eu prefiro nao comentar
pq mtas dessas lembranças eu nao tenho

;)