sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Ela levanta da cama, ajeita o cabelo bagunçado, abre a porta e vai até a cozinha. Abre a geladeira e pega uma garrafinha de água, engole toda aquela água gelada em cinco segundos contados no ponteiro do relógio amarelo em cima da porta, enche a garrafinha de novo e coloca de volta na geladeira. Faz um carinho na cadela e se tranca no quarto-do-computador.
Horas depois ela ainda está na mesma frase: "Você...". E quem seria você? Existem tantas pessoas para quem poderia dedicar um texto, uma citação ou até mesmo só mandar uma mensagem rotineira no orkut. Existem tantas pessoas no mundo dela, tantas.. Entre amigos e conhecidos, companheiros de uma fase, parentes e também pessoas desconhecidas, porém, da rotina, como o cobrador simpático do ônibus que ela pega de volta pra casa.
Esse texto ou registro poderia ser para seu amigo que está distante em outro país, ou pra sua amiga que está distante em outro país, poderia ser para alguma antiga namorada, ou poderia ser para a menina que a faz sorrir todos os dias, até mesmo para um colega que está se mudando, ou quem sabe para uma tia que morreu a pouco. Muita gente, muita.
Ela respira fundo, lê as notícias em uma revista qualquer, e então olha para a tela do computador, lá está: "Você...". Estrala os dedos cansados de digitar e apagar, observa no espelho os olhos caídos e a cara amassada de quem dormiu horas a mais. Olha pra cima e sente vontade de ver o céu, mas acima só existe o teto braco-sem-vida, então levanta, caminha até o quarto, coloca uma roupa e sai.
Caminha pelas ruas, senta em uma praça e admira o céu por horas, depois sorri e volta pra casa.
Entra, senta em frente ao computador e começa: "Você... é algo assim, é tudo pra mim, é como eu sonhava.".
No fundo, ela não sabe quem és, ela tenta se encontrar, ouve suas músicas, veste suas roupas novas, muda o corte de cabelo, conhece pessoas, e se encontra. Mas e você? Quem é?